sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Osho- Crer



O crente não é alguém que busca. O crente não quer buscar nada. É por isso que ele acredita. O crente quer evitar a busca, por isso ele acredita. O crente quer ser levado, salvo. Ele precisa de um salvador, ele está sempre em busca de um messias — alguém que possa comer por ele, mastigar por ele, digerir por ele. Mas, se eu comer, a fome que você tem não será saciada. Ninguém pode salvá-lo, a não ser você mesmo. A crença não tem nada a ver com a verdade. Você pode acreditar que é noite, mas o dia não vai anoitecer só porque você acredita nisso. Ele não vai se tornar noite. Você está vivendo um tipo de alucinação. Existe este perigo na crença: ela faz você achar que conhece a verdade. E como faz você achar que conhece a verdade, isso se torna uma grande barreira na busca. Acredite ou desacredite e você estará
bloqueado — porque a descrença nada mais é do que a crença numa forma negativa. O católico acredita em Deus, o comunista acredita em um nãodeus: ambos são crentes. Vá para a Caaba ou vá para o Comintern, vá para o Kailasa ou para o Kremlin — é tudo a mesma coisa. O crente acredita que é assim, o descrente acredita que não é. E pelo fato de os dois já terem chegado a uma conclusão, sem se darem ao trabalho de ir lá e descobrir por si mesmos, quanto mais forte for a crença, maior será a barreira. Eles nunca farão uma peregrinação, não é preciso. Viverão cercados pela própria ilusão, criada e sustentada por eles mesmos. Pode ser reconfortante, mas não é libertador. Milhões de pessoas estão desperdiçando a vida com a crença e a descrença. A busca pela verdade começa quando você deixa de lado todas as crenças. Você diz: "Eu gostaria de encontrar a verdade por mim mesmo. Não acreditarei em Cristo e não acreditarei em Buda. Eu gostaria de me tornar eu mesmo um Cristo ou um Buda. Gostaria de ser uma luz para mim mesmo." Por que você deveria ser cristão? Seja um Cristo se você puder, mas não seja um cristão. Seja um Buda se tiver algum respeito por si mesmo, mas não seja um budista. O budista acredita. O Buda sabe. Se você pode saber, se é possível saber, então por que se contentar em acreditar? Você tem que entender a diferença entre consciência moral e consciência. A consciência é sua. A consciência moral é transmitida pela sociedade. Ele é uma imposição sobre a sua consciência. Cada sociedade impõe um tipo de idéia sobre a sua consciência, mas todas elas impõem alguma coisa. E depois que algo é imposto sobre a sua consciência, você não é mais capaz de escutá-la — ela fica muito distante. Entre a sua consciência e você se ergue uma parede espessa de dever e de moral que a sociedade lhe impôs desde a sua mais tenra infância. A menos que você faça uma pessoa se sentir culpada, você não consegue escravizá-la psicologicamente. E impossível aprisioná-la a
uma certa ideologia, a um certo sistema de crença. Mas depois que você cria a culpa na mente da pessoa, toma tudo o que havia de coragem nela. Destrói tudo o que havia de aventureiro nela. Reprime todas as possibilidades de que ela seja, um dia, um indivíduo por seus próprios méritos. Com a idéia de culpa, você quase extirpa o potencial humano dessa pessoa. Ela nunca poderá ser independente. A culpa a forçará a depender de um messias, de um ensinamento religioso, de Deus, de conceitos de céu e inferno, de toda essa coisa. E para criar a culpa você só precisa de algo muito simples: comece a falar de erros, engano
s — pecados.

                                                                             'Osho- Faça o Seu Coração Vibrar' 

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O Agora


Um guerreiro japonês foi capturado pelos seus inimigos e jogado na prisão. Naquela noite ele sentiu-se incapaz de dormir pois sabia que no dia seguinte ele iria ser interrogado, torturado e executado. Então as palavras de seu mestre Zen surgiram em sua mente: "O "amanhã" não é real. É uma ilusão. A única realidade é "AGORA. O verdadeiro sofrimento é viver ignorando este Darma". Em meio ao seu terror subitamente compreendeu o sentido destas palavras, ficou em paz e dormiu tranquilamente.

domingo, 21 de novembro de 2010

Osho- Consequências



Não pense nas conseqüências. Só os covardes pensam nas conseqüências. Todo mundo lhe diz para ser comedido. Por quê? Se a vida é tão curta, por que ser comedido? Salte o mais alto que puder. Dance com toda a sua energia. Ser como todo mundo significa fazer parte de todo tipo de mentira que a sociedade chama de etiqueta, de boas maneiras. A razão é clara porque as pessoas falam sobre a verdade e ainda vivem em um mundo de mentiras. O coração delas anseia pela verdade. Elas têm  de si mesmas por não serem verdadeiras, então falam sobre a
verdade. Mas isso não passa de mera conversa. Viver de acordo com a verdade é perigoso demais — elas não pedem se arriscar. E o mesmo acontece com a liberdade. Da boca para fora, todo mundo quer liberdade, mas ninguém é livre de fato e ninguém quer realmente ser livre, porque a liberdade traz responsabilidade. Ela não vem sozinha. A diferença entre ambição e anseio é que a ambição visa a um objetivo, o anseio visa à fonte. Ambição significa que existe algo a se conquistar "lá fora". Ela depende de um objetivo, existe um motivo. Por isso você pode ser racional no que diz respeito a ela. Pode calcular se vale a pena atingir esse objetivo ou não. Não é uma questão de sentimento, é algo que se calcula. Você tem que seguir em uma certa direção com cautela: o mundo é dos espertos, todo mundo está tentando atingir o
mesmo objetivo e existe competição. Você tem que ser sagaz e inteligente, além de muito cauteloso. Tem que ser político, diplomático. O anseio não tem um objetivo, mas tem uma fonte. O coração é a fonte.
Vincent van Gogh sempre pintava as árvores tão grandes que elas iam além das estrelas. As estrelas eram pequenas, o Sol e a Lua eram pequenos e as árvores eram imensas... Alguém perguntou a ele: "Você é maluco? Por que nunca pára de pintar árvores tão grandes? A estrela
mais longínqua fica a milhões e milhões de anos-luz e as suas árvores sempre vão além das estrelas! Que maluquice é essa?" E Van Gogh riu e disse: "Eu sei! Mas sei de outra coisa também, da qual você não se dá conta. As árvores são os anseios da terra para transcender as estrelas. Eu estou pintando os anseios, não as árvores. Estou mais preocupado com a fonte, não com o objetivo. E irrelevante se elas alcançam as estrelas ou não. Eu pertenço à terra, sou parte dela e compreendo o anseio da terra. Esse é o anseio da terra expresso através das árvores — ir além das estrelas." 
E, por um anseio, tudo é possível. Nada é impossível porque a questão não é chegar a um lugar, mas apenas contemplar a fonte do próprio anseio. Olhe bem dentro do seu coração. Ouça a voz calma dentro de você. E lembre-se de uma coisa: uma pessoa só se realiza na vida por meio dos anseios, nunca por meio das ambições. A vida é basicamente insegura. Essa é a sua qualidade intrínseca, Nada pode mudar isso. A morte é segura, absolutamente segura. No momento em que você escolhe a segurança, sem saber está escolhendo a morte. No momento em que escolhe a vida, está escolhendo a insegurança. Com a segurança, com o conhecido, você fica entediado. Começa a ficar entorpecido. Com a insegurança, com o desconhecido, com o inexplorado, você se sente extasiado, belo, criança novamente — mais uma vez aqueles olhos de admiração, mais uma vez aquele coração capaz de se maravilhar. Quem tem medo da morte? Nunca cruzei com alguém que o tenha. Mas quase todo mundo com quem cruzei tem medo da vida. Esqueça o medo da vida... Ou você tem medo ou você vive — a decisão é sua. E o que há para temer? Não há nada que possa perder. Você só tem a ganhar. Esqueça todos os medos e mergulhe de cabeça na vida.
            
                                                                                            'Osho- Faça o seu Coração Vibrar'

sábado, 20 de novembro de 2010

Osho- Ego, o Falso Centro


Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso. Nascimento significa vir a este mundo, o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce neste mundo. Ela abre seus olhos, vê os outros. O "outro" significa o tu. Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Este também é o outro, também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo.
É desta maneira que a criança cresce. Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, tu, ela se torna consciente de si mesma.
Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que esta pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se ela aprecia a criança, se diz: "Você é bonita", se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Agora um ego está nascendo. Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ela não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensam a seu respeito. E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida; sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é o ego. Isso também é um reflexo. Primeiro a mãe - e mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se
juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas. O ego é um fenômeno acumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não. O verdadeiro pode ser conhecido somente através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ela é uma disciplina. O verdadeiro pode ser conhecido somente através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade
nascerá em você. O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo
que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá para a escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estão adicionando algo ao seu ego, e todos estão tentando modificá-lo, de tal forma que você não se torne um problema para a sociedade. Elas não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade. A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser. Elas não estão interessados no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão. Assim, estão tentando dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajustará à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro. É por isso que colocamos os criminosos nas prisões - não que eles tenham feito alguma coisa errada, não que ao colocá-los nas prisões iremos melhorá-los, não. Eles simplesmente não se ajustam. Eles criam problemas. Eles têm certos tipos de egos que a sociedade não aprova. Se a sociedade aprova, tudo está bem. Um homem mata alguém - ele é um assassino. E o mesmo homem , durante a guerra, mata milhares - e torna-se um grande herói. A sociedade não está preocupada com o homicídio, mas o homicídio deveria ser praticado para a sociedade - então tudo está bem. A sociedade não se preocupa com moralidade. Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade. Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda criança deve ser
educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes . A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao auto-conhecimento. A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível. E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que este é o seu centro, o ego dado pela sociedade. Uma criança volta para casa - se ela foi o primeiro aluno de sua classe, a
família inteira fica feliz. Você a abraça e a beija, e você coloca a criança no colo e começa a dançar e diz: "Que linda criança! Você é um motivo de orgulho para nós." Você está dando um ego a ela. Um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, um fiasco - ela não pode passar, ou ela tirou o último lugar - então ninguém a aprecia e a criança sente-se rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado. O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. É por isso que você está continuamente pedindo atenção. Ouvi contar:
 
Mulla Nasrudin e sua esposa estavam saindo de uma festa, e Mulla disse: "Querida, alguma vez alguém já lhe disse que você é fascinante, linda, maravilhosa?" Sua esposa sentiu-se muito, muito bem, ficou muito feliz. Ela disse: "Eu me pergunto por que ninguém jamais me disse isso."
Nasrudin disse: "Mas então de onde você tirou essa idéia?" 

Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta. É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Esse centro é falso, porque você contém o seu centro verdadeiro. Este, não é da conta de ninguém. Ninguém o modela, você vem com ele. Você nasce com ele. Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Este é o eu. E o outro centro, que lhe é dado pela sociedade - o ego. Ele é algo falso - e é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente então a sociedade o aprecia. Você tem que caminhar de uma certa maneira: você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente então a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, quem você é. Os outros deram-lhe a idéia. Essa idéia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a menos que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E lembre-se, vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará despedaçado, quando você não saberá quem você é, quando você não saberápara onde está indo, quando todos os limites se dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos. Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas. Ouvi dizer:
 
Uma criancinha estava visitando seus avós. Ela tinha apenas quatro anos de idade. De noite, quando a avó a estava fazendo dormir, ela de repente começou a chorar e a gritar: "Eu quero ir para casa. Estou com medo do escuro." Mas a avó disse: "Eu sei muito bem que em sua casa você também dorme no escuro; eu nunca vi a luz acesa: Então por que você está com medo aqui?" O menino disse: "Sim, é verdade - mas aquela é a minha escuridão. Esta escuridão é completamente desconhecida."
 
Até mesmo com a escuridão você sente: "Esta é minha." Do lado de fora - uma escuridão desconhecida. Com o ego você sente: "Esta é a minha escuridão." Pode ser problemática, pode criar muitos tormentos, mas ainda assim, é minha. Alguma coisa em que se segurar, alguma coisa em que se agarrar, alguma coisa sob os pés; você não está em um vácuo, não está em um vazio. Você pode ser infeliz, mas pelo menos você é. Até mesmo o ser infeliz lhe dá ma sensação de "eu sou". Afastando-se disso, o medo toma conta; você começa a sentir medo da escuridão desconhecida e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte do seu ser... É o mesmo que penetrar em uma floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva. Aqui tudo está bem; você planejou tudo. Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que você possa se sentir em casa ali. E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo. Além da cerca você é, tal como dentro da cerca você é - e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto . Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo para o desconhecido. Por um certo tempo, todos os limites ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai sentir-se atordoado. Por um certo tempo, você vai sentir-se muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto. Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esta é a sua alma, o eu.

                                                                                          'Osho- Ego, o Falso Centro'

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Osho- Amor Verdadeiro


Quando há dependência não há maturidade nem amor, há necessidade. Usa-se o outro, o que é desamoroso. Ninguém gosta de ser dependente, porque a dependência mata a liberdade. Os homens sempre querem mulheres que sejam "menos" do que eles. A maturidade vem com o amor e acaba com a necessidade. Amor é luxo, abundância. É ter tantas canções no coração, que é preciso cantá-las, não importando se há quem ouça. Quando somos autênticos, temos a aura do amor. Quando não, pedimos amor aos outros. Quem se apaixona não tem amor e, assim, não pode dar. Quem é maduro não cai de amor, mas se eleva nele. Duas pessoas maduras que se amam, ajudam-se a se tornarem mais livres. Liberdade, moksha, é um valor mais elevado que o amor. Por isso é que o amor não vale a pena se a destruir.

                                                                'Osho- Relacionamento: Amor e Liberdade'

Osho- Ciúme



Quando há atração sexual e o ciúme entra é porque não há amor. Há medo, porque o sexo é uma exploração. O medo se torna ciúme. Não se pode amar alguém não-livre, pois o amor só existe se dado livremente, quando não é exigido, forçado e tomado. Quanto mais controlamos, mais "matamos" o outro. As causas do ciúme estão dentro de nós; fora estão só as desculpas. O amor não pode ser ciumento. Ele é sempre confiante. Confiança não pode ser forçada. Se ela existir, segue-se por ela. Senão, é melhor separar, para evitar danos e destruição e poder amar outra pessoa. Quando amamos alguém, confiamos que não quererá outro. Se quiser, não há amor e nada pode ser feito. Só através do outro tornamo-nos conscientes de nosso próprio ser. Só num profundo relacionar-se o amor de alguém ressoa e mostra sua profundidade: assim nos descobrimos. Outra forma de autodescoberta, sem o outro, é a meditação. Só há dois caminhos para chegar ao divino: meditação e amor.

                                                                   'Osho- Relacionamento: Amor e Liberdade'

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Osho- Vida e Morte


— Quando cheguei aqui estava tenso. As pessoas pareciam inimigas, nada abertas.
Agora tudo mudou; todas são bonitas. Já passei por experiências similares antes, mas sempre desaparecem gradualmente. Espero que agora isto seja sabedoria e não se enfraqueça, mas tenho medo de que isto seja apenas informação e eu a perca.

Olhe para uma rosa. Se ela for real, à noite começará a murchar; se for de plástico,
continuará a mesma. A informação é mais permanente que a sabedoria, porque a sabedoria é real e a informação é artificial. Você está pensando em termos errados. Você diz que já aconteceu antes também — estes momentos, estas aberturas — mas que enfraqueceram e desapareceram; tornaram-se parte da memória. Agora você quer algo permanente. Essa própria idéia está cheia de avareza. Se você quiser algo permanente, terá de escolher uma coisa falsa, pois só o falso pode permanecer. O real é momentâneo — é sempre momentâneo. Existe por um momento e depois se vai. É forte e frágil. É tremendamente forte: quando acontece, acontece totalmente. Quando desaparece, desaparece. Só o falso é permanente, mas devido à nossa avareza desejamos a permanência. O amor é frágil como uma rosa. O casamento é uma flor de plástico. É artificial, legal, social. O amor é inseguro. Ele acontece, e quando acontece é tremendamente belo. Você voa alto; fica ligado; tudo se preenche de prazer e de alegria. Toda a existência fica em festa, é uma celebração, uma dança. Deus olha para você por todos os cantos e ângulos. ..e de repente desaparece — tão de repente quanto veio, Ele se vai. A mágica desaparece, não há mais charme, a poesia empalidece; sobram apenas cinzas, coisas gastas e mortas. Temendo esta frágil realidade, o homem criou, em contraposição, a sua realidade permanente — para se assegurar, se certificar. Você não pode contar com uma namorada, não pode contar com um namorado. Mas pode contar com um marido ou uma esposa. Eles são de plástico. Uma namorada é como o vento; ninguém sabe se permanecerá com você no próximo momento, ou se escolherá outra parte do mundo, outra árvore para ter um caso de amor. Ninguém sabe. Num
momento ela aparece do nada, no outro já se foi. Talvez não vá, talvez vá, mas não há nada certo. Temendo essa incerteza — por avareza, por medo — o homem criou o casamento. O casamento é uma coisa feia. O amor é belo. Você não vê como é feia uma flor de plástico? E por que é feia? Em primeiro lugar porque, para permanecer, ela tem que estar morta, pois a vida inclui a morte. Só uma coisa morta não morre nunca. Se você está vivo, está propenso a morrer. Quanto mais vivo estiver, mais propenso à morte estará. Quanto mais vibrante de vida, mais próximo da morte. Em toda a dança da vida você encontrará a presença da morte, sua imensa presença. É por isso que sempre que você está profundamente apaixonado por alguém, de repente começa a pensar na morte. Já observou isso? Os amantes começam a pensar na morte. Os cambistas de dinheiro jamais, pensam na morte. Um poeta, num profundo momento de comunhão com a natureza, começa a pensar na morte. Um dançarino no auge da sua dança, quando tudo está explodindo, sente medo: a morte está presente. Sempre que você chegar ao auge de qualquer experiência, encontrará a morte presente. Por quê.? Porque sempre que houver vida, haverá morte. As pessoas decidiram não viver plenamente, nunca chegar a um ponto máximo. Vivem no limite do mínimo — no mínimo você pode evitar a morte, porque aí você está quase morto. Não há contraste. Quando você está muito vivo, a morte fica muito próxima; o contraste é muito claro. As pessoas sentem medo de morrer e por isso vivem no mínimo. As pessoas sentem medo de mudar. Uma casa é mais imutável. Um país, um credo, um templo, um deus dos teólogos parece ser mais permanente. Elas evitam as coisas momentâneas .:— e a realidade é momentânea, é um fluxo, um processo. Tudo se move dinamicamente; é como um rio. Você diz: Quando cheguei aqui, estava tenso. As pessoas pareciam inimigas, fechadas. Agora tudo mudou. ., Nada mudou; só você mudou. As pessoas são as mesmas — pergunte a elas. Elas estavam tensas porque você estava tenso. Elas pareciam inimigas porque você não era amigo. Nada mudou. As pessoas não mudaram; elas não se tornaram amigas de repente. Você mudou. Você se abriu, relaxou. Não está mais pedindo para que elas sejam amigas; pelo contrário, você começou a ser amigo. E de repente descobriu que elas são amorosas. Você sempre encontra o que você é. E lembre-se: tudo o que você encontra é você. Não é mais ninguém. Isto acontece com todos que chegam aqui. As pessoas vêm com uma grande expectativa, como se todo o ashram fosse dançar porque elas chegaram; todos fossem celebrar e fazer uma grande festa. Essas expectativas estão ocultas na mente. Então as pessoas chegam e o Sant nem mesmo permite que elas entrem facilmente pelo portão! Parece pouco delicado. Ele é instruído para agir dessa maneira. E de repente as suas esperanças e expectativas desaparecem. Eu ajudo isso a acontecer. Essas expectativas e esperanças precisam ser destruídas porque com elas você continuará sendo egoísta. Com as esperanças e expectativas você permanecerá velho. Elas têm de ser abandonadas.

                                                                       'Osho- Extâse a Linguagem Esquecida'

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Osho- Extâse


O êxtase é uma linguagem que o homem esqueceu completamente. Foi forçado a esquecê-la; foi compelido a esquecê-la. A sociedade é contra, a civilização é contra. A sociedade fez um enorme investimento na miséria. Depende da miséria, alimenta-se da miséria; sobrevive da miséria. A sociedade não é para os seres humanos. A sociedade está usando os seres humanos como um meio para ela mesma. A sociedade tornou-se mais importante que a humanidade. A cultura, a civilização, a igreja tornaram-se mais importantes. Elas destinavam-se ao homem, mas agora não são mais para ele. Elas inverteram quase todo o processo; agora, o homem existe para elas. Toda criança nasce em êxtase. O êxtase é natural. Não é alguma coisa que acontece somente aos grandes sábios. É algo que todos trazem consigo para o mundo; todos vêm com ele. É o mais profundo centro da vida. Faz parte do estar vivo. A vida é êxtase. Toda criança o traz para o mundo, mas então a sociedade salta sobre a criança, começa a destruir a possibilidade de êxtase, começa a tornar a criança miserável, começa a condicionar a criança. A sociedade é neurótica e não pode permitir que pessoas em êxtase estejam aqui. São pessoas perigosas para ela. Tente compreender o mecanismo; então as coisas serão mais fáceis. Você não pode controlar um homem em êxtase; é impossível. Você só pode controlar um homem miserável. Um homem extático fatalmente será livre; êxtase é liberdade. Ele não pode ser reduzido a um escravo. Você não pode destruir esse homem tão facilmente; não pode persuadi-lo a viver numa prisão. Ele quer dançar sob as estrelas, quer caminhar no vento e quer falar com o sol e a lua. Precisa do vasto, do infinito, da imensidão, da enormidade. Não pode ser seduzido a viver numa cela escura. Você não pode fazer dele um escravo. Ele viverá sua própria vida e fará suas coisas. Isto é muito difícil para a sociedade. Se existirem muitas pessoas em êxtase, a sociedade sentirá que está se desintegrando, que sua estrutura não aguentará mais. Essas pessoas em êxtase serão rebeldes. Lembre-se, eu não chamo uma pessoa extática de 'revolucionária'; chamo-a de 'rebelde'. Um revolucionário é alguém que quer mudar a sociedade, mas quer substituí-la por outra. O rebelde é aquele que quer viver como um indivíduo e gostaria que não existisse nenhuma estrutura social rígida no mundo. Um rebelde não quer substituir esta sociedade por outra — porque todas as sociedades são iguais. A capitalista, a comunista, a fascista e a socialista são primas irmãs; não faz muita diferença. Sociedade é sociedade. Todas as igrejas são iguais — a hindu, a cristã e a muçulmana. Quando uma estrutura se torna poderosa, não quer ninguém em êxtase, pois o êxtase é contra a estrutura. Ouça e medite sobre isto: o êxtase é contra a estrutura. O êxtase é rebelde. Não é revolucionário. Um revolucionário é um homem político; um rebelde é um homem religioso. Um revolucionário quer outra estrutura, a que ele deseja, a que é a sua utopia, mas a estrutura é sempre igual. Ele quer estar no poder. Quer ser o opressor e hão o oprimido; quer ser o explorador e não o explorado; quer legislar e não ser legislado. O rebelde não quer leis e nem quer legislar. O rebelde é aquele que não quer regras no mundo. É anárquico. Um rebelde é aquele que confia na natureza, não nas estruturas criadas pelo homem, que confia que se a natureza agir por si mesma, tudo será belo. E é! Um universo tão vasto segue sem nenhum governo. Os animais, os pássaros, as plantas, tudo continua sem nenhum governo. Por que o homem precisa de governos? Algo deve estar errado. Por que o homem é tão neurótico que não pode viver sem legisladores? Há agora um círculo vicioso. O homem pode viver sem legisladores, mas nunca lhe foi dada nenhuma oportunidade os legisladores não lhes darão nenhuma oportunidade. Quando você souber que pode viver sem eles, quem vai querê-los aqui? Quem os suportará? Neste momento você está apoiando os seus próprios inimigos. Está votando em seus próprios inimigos. Dois inimigos estão numa disputa presidencial e você escolhe. Ambos são iguais. É como se você tivesse liberdade para escolher a prisão, em que prisão quer entrar. E vota contente — prefiro a prisão A ou a B; acredito na prisão Republicana ou na Democrática. Mas ambas são prisões. E uma vez que você apoia uma prisão, esta fez seu próprio investimento. Então, não permitirá que você tenha um sabor de liberdade.  Portanto, desde a infância não se permite que a criança experimente a liberdade, porque quando ela souber o que é liberdade, não fará concessões, não se comprometerá — não estará pronta para viver numa cela escura. Prefere morrer, mas não permitirá que ninguém a reduza a um escravo. Ela será afirmativa. É claro que não, estará interessada em ter poder sobre as outras pessoas. Esta é uma tendência neurótica: interessar-se demais em ter poder sobre os outros. Mostra simplesmente que no fundo você não tem poder e teme que se não se tornar poderoso, outros se apoderarão de você. Maquiavel diz que a melhor defesa é o ataque. A melhor maneira de se proteger é atacarantes. Estes chamados políticos — tanto no Ocidente quanto no Oriente — são todos no fundo, pessoas fracas que sofrem de inferioridade; temem que se não se tornarem politicamente poderosos, alguém irá explorá-los, então por que não explorar em vez de ser explorado? O explorado e o explorador estão ambos no mesmo barco — e ambos estão ajudando o barco, protegendo o barco. Uma vez que a criança conhece o sabor da liberdade, nunca mais fará parte de nenhuma sociedade, de nenhuma igreja, de nenhum clube, de nenhum partido político. Permanecerá um indivíduo, permanecerá livre e criará pulsações de liberdade ao seu redor. O seu ser tornar-se-á uma
porta para a liberdade. A criança não tem permissão para experimentar a liberdade. Se ela pergunta à mãe: "Posso sair? O sol está bonito, o ar está fresco e eu gostaria de correr na calçada", imediatamente - obsessivamente, compulsivamente — a mãe diz "Não!" A criança não pediu muito. Ela só queria sair numa manhã ensolarada de ar refrescante, queria desfrutar dos raios de sol, do ar e da companhia das árvores — não pediu nada! — mas compulsivamente, a partir de uma profunda compulsão, a mãe diz não. É muito difícil ouvir uma mãe dizer sim, é muito difícil ouvir um pai dizer sim. Mesmo que eles digam sim, dizem com muita relutância. Mesmo que digam sim, fazem com que a criança se sinta culpada, fazem com que ela sinta que os está forçando, que está fazendo alguma coisa errada. Sempre que a criança se sente feliz fazendo qualquer coisa, uma pessoa ou outra fatalmente vem interrompê-la — "Não faça isso!" Aos poucos a criança compreende: "Tudo o que me faz feliz está errado". E é claro que ela nunca se sente feliz fazendo o que os outros querem, porque não é uma necessidade espontânea dela. Então fica sabendo que ser miserável está certo, ser feliz está errado. Isto se torna uma associação profunda. Se ela quer abrir um relógio e olhar dentro dele, a família toda cai em cima — "Pare! Você destruirá o relógio. Isso não é bom". E ela só estava querendo olhar dentro do relógio; era uma curiosidade científica. Ela queria ver o que faz tique-taque. Está perfeitamente certo. E o relógio não é tão valioso quanto a sua curiosidade, quanto a sua mente inquisidora. O relógio não vale nada — mesmo que quebre, nada será destruído — mas quando a mente inquisidora é destruída, muito se destrói; ela nunca mais buscará pela verdade. Ou então, a noite está bela, o céu cheio de estrelas e a criança quer ir sentar-se fora de casa, mas é hora de dormir. Ela não está sentindo sono; está acordada, acordada demais. A criança não consegue entender por que de manhã, quando está com sono, todos dizem: "Levante-se!". Quando está gostando, quando é tão bom estar na cama, quando ela quer virar de lado e dormir mais um pouco, todos estão contra — "Levante-se! É hora de levantar". Agora está completamente acordada e quer desfrutar das estrelas. É um momento poético, muito romântico. Ela se sente excitada. Como pode dormir com tanta excitação? Quer dançar, cantar e eles a estão forçando a ir dormir — "São nove horas. É hora de dormir". Ela estava tão feliz acordada mas é forçada a dormir. Quando estava brincando foi forçada a comer na mesa. Não tinha fome. Quando está com fome, a mãe diz: "Agora não é hora". Desta maneira vamos destruindo toda a possibilidade de êxtase, toda a possibilidade de estar feliz, alegre e encantado. Sempre que a criança se sente espontaneamente feliz com alguma coisa, parece que está errado, e sempre que não se sente, parece que está certo. Na escola, de repente um pássaro começa a cantar fora da sala de aula e a criança presta atenção nele, é claro — não no professor de matemática que está parado na frente com seu feio giz na mão. Mas o professor é mais poderoso, politicamente mais poderoso que o pássaro. Certamente o pássaro não tem poder, mas tem beleza. O pássaro atrai a criança sem martelar sua cabeça: "Preste atenção! Concentre-se em mim!" Não, simplesmente, espontaneamente, naturalmente, a consciência da criança começa a fluir pela janela. Vai até o pássaro. O seu coração está lá, mas ela tem que olhar para o quadro-negro. Não há nada para olhar, mas ela tem que fingir. A felicidade está errada. Sempre que sente felicidade, a criança começa a sentir medo de que algo esteja errado. Se a criança está brincando com o seu próprio corpo, está errado. Se ela brinca com os seus órgãos sexuais, está errado. E este é um dos maiores momentos de êxtase na vida da criança. Ela gosta de seu corpo; é excitante. Mas toda a excitação tem que ser interrompida, toda a alegria destruída. É neurótico, mas a sociedade é neurótica. O mesmo foi feito aos pais pelos pais deles; e eles estão fazendo a mesma coisa para seus filhos. Desta maneira uma geração vai destruindo a outra. Assim, transferimos as nossas neuroses de uma geração para outra. A Terra toda se tornou um hospício. Ninguém parece saber o que é o êxtase. Ele foi perdido. Foram criadas barreiras e mais barreiras. Observo aqui diariamente que quando as pessoas começam a meditar, a sentir a ascensão da energia e a se sentirem felizes, elas imediatamente me procuram e dizem: "Uma coisa muito estranha está acontecendo. Estou me sentindo feliz e ao mesmo tempo me sentindo culpada, sem razão nenhuma". Culpa? Elas não entendem. Por que se sentem culpadas? Elas sabem que não há motivo — que não fizeram nada. De onde vem a culpa? Vem de um profundo condicionamento: a alegria está errada. Está certo sentir-se triste, mas não é permitido estar feliz. Certa vez, numa cidade em que eu vivia, o comissário de polícia era meu amigo; éramos
colegas de universidade. Ele costumava me procurar para dizer: "Sinto-me tão miserável. Ajude-me a sair disso". Eu respondia: "Você fala em sair disso, mas não sinto que você queira realmente. Em primeiro lugar, porque escolheu trabalhar nesse departamento de polícia? Você deve sentir-se miserável e quer que os outros também se sintam". Um dia pedi a três discípulos meus para que saíssem pela cidade, dançassem em lugares diferentes e se sentissem felizes. Eles perguntaram: "Para quê?" Eu respondi: "Apenas vão". Dentro de uma hora, é claro, eles foram presos pela polícia. Eu chamei o comissário e disse-lhe: "Por que você prendeu a minha gente?" Ele respondeu: "Eles pareciam loucos". Eu continuei: "Fizeram alguma coisa errada?" "Não, nada", disse ele. "Na verdade, não fizeram nada errado". "E por que os prendeu?", perguntei. Ele disse: "Eles estavam dançando na rua E estavam rindo". "Mas se não fizeram nada que fosse prejudicial aos outros, por que interferiu? Por que você teve que entrar no meio? Eles não atacaram ninguém, não invadiram o território de ninguém. Estavam apenas dançando, rindo, são pessoas inocentes." Ele disse: "Você está certo, mas é perigoso". "Por que é perigoso? Ser feliz é perigoso? Extasiar-se é perigoso?" Ele entendeu e imediatamente os soltou. Veio correndo para mim e disse: "Você deve estar certo. Eu não me permito ser feliz — e não posso permitir que ninguém mais o seja".  São esses os seus políticos, os seus comissários de polícia, os seus magistrados, os seus juizes, os seus líderes, os seus chamados santos, os seus padres, os seus papas — são essas pessoas. Todos eles investiram muito na sua miséria. Dependem da sua miséria. Se você é miserável eles se sentem felizes. Só uma pessoa miserável vai ao templo rezar. Uma pessoa feliz vai ao templo? Para quê? Uma pessoa feliz está feliz porque sente Deus em toda parte! Isto é que é felicidade. Ela está tão extasiadamente apaixonada pela existência que para onde quer que olhe, encontra Deus. O seu templo está em toda parte. E seja onde for que ela se ajoelhe, encontra os pés de Deus, nada mais. O seu respeito, a sua reverência, não precisam ser confinados de modo que ela tenha de ir a um templo hindu ou a uma igreja cristã. Isto é estupidez, não faz sentido. Somente as pessoas miseráveis, que não podem sentir Deus, não podem vê-Lo numa flor em botão, num pássaro cantando, num arco-íris psicadélico, numa nuvem flutuante, nos rios e nos oceanos, não podem ver Deus nos belos olhos de uma criança, vão à igreja, à mesquita, ao templo, vão aos padres, e perguntam: "Onde está Deus? por favor, mostrem-nos". Só as pessoas miseráveis estão disponíveis para as religiões. Sim, Bertrand Russel estava quase certo quando disse que se algum dia o mundo se tornasse feliz, a religião desapareceria. Eu disse quase certo, noventa e nove por cento certo. Não posso dizer cem por cento, porque conheço um outro tipo de religião da qual Bertrand Russel não tinha consciência. Sim, essas religiões desaparecerão — ele está certo em relação a elas: a hindu, a cristã, a muçulmana, a jainista, a budista, estas desaparecerão — desaparecerão com certeza. Se o mundo se tornar feliz, elas fatalmente desaparecerão, pois quem vai se importar? Mas ele está apenas noventa e nove por cento certo; um por cento errado. E esse um por cento e mais importante do que os noventa e nove por cento, porque um outro tipo de religião, a religião real, a religião do êxtase, a religião que não tem nome, não tem código, não tem Bíblia, nem Alcorão, nem Vedas, a religião que hão escrituras, não tem adjectivos; apenas uma religião de dança, uma religião de amor, uma religião de respeito, uma religião de bênção, a religião pura surgirá no mundo quando as pessoas forem felizes. Na verdade, essas religiões que existem não são religiões. São apenas sedativos, são tranquilizantes. Marx também está certo — é claro que só noventa e nove por cento — dizendo que a religião é o ópio das massas. Ele está certo. Essas religiões o ajudam a tolerar a miséria. Elas o ajudam, o consolam, dão-lhe a esperança de que: "Sim, hoje sou miserável; mas amanhã serei feliz". E esse amanhã não chega nunca. Dizem: "Nesta vida você é miserável, mas na vida seguinte. ..Seja bom, seja moral, siga as regras da sociedade — seja um escravo, seja obediente — e na próxima vida você será feliz". E ninguém sabe sobre a próxima vida. Ninguém jamais vem para dizer alguma coisa sobre ela. Ou se essas religiões não crêem numa próxima vida, dizem: "Quando você for para outro lado, para o céu, terá a recompensa". Mas obedeça aos padres e aos políticos. Há uma conspiração entre os padres e os políticos. São dois lados de uma mesma moeda. Eles se ajudam mutuamente. E todos têm interesse em que você permaneça miserável — assim os padres podem ter uma congregação e podem explorá-lo; e os políticos podem forçá-lo a ir à guerra em nome da nação, em nome do estado, em nome disto ou daquilo — tudo um absurdo, mas podem mandá-lo para a guerra. Somente as pessoas miseráveis podem ser alistadas para a guerra; só as pessoas profundamente miseráveis estão prontas para lutar, estão prontas para matar ou serem mortas. São tão miseráveis que para elas a morte parece ser melhor do que a vida.

                                                                    'Osho- Extâse a Linguagem Esquecida'


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Osho- Consolo


Ouvi contar sobre um judeu que caiu na rua e estava morrendo; era um ataque cardíaco. Juntaram-se algumas pessoas e começaram a procurar por algum religioso, algum padre, pois o homem estava morrendo. Veio um padre católico que não sabia quem era a pessoa. Chegou perto do moribundo e disse: "Você crê? Declara que crê na Trindade — Deus, o Pai, o Espírito Santo e Jesus Cristo, o Filho?" O moribundo abriu os olhos e disse: "Estou morrendo e ele me vem com charadas. O que faço agora com essa trindade? Estou morrendo. Que besteira é essa que você está dizendo?" Um homem está morrendo e você o consola dizendo que a alma é imortal. Esses consolos não adiantam. Alguém se sente miserável e você diz: "Não se sinta miserável, isso é apenas psicológico". De que adianta? Voçê o faz sentir-se mais miserável ainda. Essas teorias não funcionam muito. Foram inventadas para consolar, para enganar. Se você está congelando, está congelando. Em vez de perguntar se seu pai era um urso polar, faça alguns exercícios. Salte, sacuda-se, ou faça a Meditação Dinâmica; e você não congelará, eu lhe prometo. Esqueça seu pai, seu avô e seu bisavô. Ouça apenas a sua realidade. Se você está congelando, faça alguma coisa. E algo sempre pode ser feito. Mas não é esse o caminho; você está na trilha errada. Pode continuar perguntando quanto quiser, e é claro que a sua pobre mãe vai consolá-lo. A pergunta é bela, muito significativa, tem uma tremenda importância. É assim que a humanidade tem sofrido. Ouça o sofrimento. Olhe dentro do problema e não tente encontrar qualquer solução fora dele. Olhe directamente dentro do problema e sempre encontrará lá a solução. Olhe dentro da questão; não peça uma resposta. Por exemplo, você pode perguntar: "Quem sou eu?" Vai a um cristão e ele diz: "Você é o filho de Deus e Deus o ama muito". Você ficará confuso, pois como Deus pode amá-lo? Um padre disse a Mulla Nasrudin: "Deus o ama muito". Ele disse: "Como pode me amar? Ele nem me conhece". E o padre disse: É por isso mesmo. Nós O conhecemos. E nós não podemos amá-Lo — é muito difícil". Ou então você vai aos hindus, faz a mesma pergunta e eles dizem: "Você é o próprio Deus". Não o filho de Deus; você é o . próprio Deus. Mas a sua dor de cabeça continua e você não entende como Deus pode ter enxaqueca. ..e a resposta não resolve o problema. Se você quer perguntar: "Quem sou eu?", não vá a nenhum lugar. Sente-se em silêncio e pergunte profundamente dentro de seu próprio ser. Deixe que a questão ressoe. Não verbalmente. Existencialmente; deixe que a pergunta fique lá como uma seta penetrante em seu coração: "Quem sou eu?" E continue com a pergunta. E não tenha pressa de responder, porque se você responder, a resposta terá vindo de qualquer outra pessoa — de algum padre, de algum político, de alguma tradição. Não responda através da sua memória, porque a memória é toda emprestada. A sua memória é assim como um computador, é morta. Ela foi enfiada dentro de você. Assim, quando perguntar: "Quem sou eu?", e a sua memória disser: "Você é uma grande alma", cuidado. Não caia nessa arapuca. Livre-se de todo esse lixo; está tudo podre. Continue perguntando: "Quem sou eu?.. Quem sou eu? ..Quem sou eu?..", e um dia verá que a pergunta também desapareceu. Restou apenas uma sede — "Quem sou eu?" Não uma pergunta, mas uma sede — todo o seu ser pulsando com a sede — "Quem sou eu'?". E um dia verá que nem mesmo você está presente: há apenas uma sede. E nesse estado intenso e apaixonado de ser, de repente descobrirá que algo explodiu. De repente você está diante de si mesmo e sabe quem é. Não há como perguntar a seu pai: "Quem sou eu?". Ele próprio não sabe quem é. Não há como perguntar a seu avô ou a seu bisavô. Não pergunte! Não pergunte à mãe, não pergunte à sociedade, não pergunte à cultura, não pergunte à civilização. Pergunte ao seu próprio centro. Se você quer realmente conhecer a resposta, vá para dentro; e a partir dessa experiência interior, acontece a mudança.Você pergunta; Como posso mudar isso? Não pode mudar. Primeiro, terá que encarar a sua realidade, e esse próprio confronto o transformará.

                                                                                                   'Osho- Extâse a Linguagem Esquecida'

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Osho- Sannyas


— O que entendo por sannyas é uma disciplina espiritual através da qual uma pessoa se torna religiosa, mas isto não está acontecendo comigo. O que fazer?

Meus sannyas não é uma disciplina. Meu sannyas é liberdade; liberação de todo o controle— até mesmo do autocontrole. Um homem controlado é um homem morto. Não faz muita diferença se você é controlado pelos outros ou por si mesmo. Meu sannyas é espontaneidade, é viver cada momento sem nenhuma disciplina préfabricada, é viver com o desconhecido sem saber exactamente para onde você está indo, porque se você já sabe para onde está indo, está morto. A vida passa mecanicamente. E a vida deve ser um fluxo do conhecido para o desconhecido. É preciso morrer a cada momento em relação ao conhecido para que o desconhecido possa penetrar em você. E só o desconhecido libera. A disciplina jamais pode vir do desconhecido. A disciplina tem "que vir da mente. A mente é seu passado. Tudo o que você aprendeu, tudo aquilo que foi condicionado a ser, tudo o que experimentou, tudo o que pensou — isto é sua mente. E dessa mente vem um plano para o futuro. Esse plano para o futuro nada mais é que uma repetição do passado; não pode ser nada mais além disso. Talvez um pouco modificado aqui e ali, enfeitado aqui e ali, mas não há nele nenhuma revolução radical. Meu sannyas é uma revolução radical. Com o sannyas eu lhe dou liberdade. Dou-lhe coragem para viver sem nenhum plano, para viver sem mente, para viver sem passado. É claro que é perigoso, mas a vida é perigosa. Só quando você está morto não há perigo. Então você está a salvo — está a salvo na sua tumba. Antes disso jamais existe segurança. Se você quer estar seguro, a salvo e perfeitamente protegido, livre de todos os perigos, então não entre no sannyas, entre em sua tumba. Não respire, porque respirar é perigoso. Um dia, a respiração lhe trará a morte. Respirar é perigoso. A vida existe no perigo, pulsa no perigo. A vida existe no oceano da morte. Ela tem que ser perigosa; não pode ser salva, segura. Você não é uma pedra. Você é uma flor, é frágil — de manhã, ri com o sol; à noite, vai-se embora. Como a vida pode ser segura? Na sua fraqueza, na sua fragilidade, como é possível ainda conceber segurança? Não, não há segurança, não pode haver. E não se pode viver da filosofia que as companhias de seguro vão propagando. É preciso conviver com o perigo, de mãos dadas com a morte. Extraordinárias dimensões abrem-se então à sua frente. Deus é revelado. Deus é muito perigoso. Não existe nenhuma palavra mais perigosa do que Deus. Deus significa viver uma vida espontânea, uma vida natural. Não tente corromper o seu futuro. Deixe-o ser. Não tente corrompê-lo, não tente controlá-lo. Não imponha a ele um molde, uma forma e um padrão. É claro que se você viver da maneira como ensino, muitas coisas desaparecerão da sua vida. A primeira delas será a segurança — e ela é uma coisa falsa. Só o falso desaparece com o sannyas, o real não. O real começa a aparecer. A segurança desaparecerá. O casamento desaparecerá. O amor permanecerá; o amor é real. Deixe-me ser mais claro: o amor pode existir com o sannyas, mas o casamento não, pois o casamento é um esforço no sentido de impor um padrão ao amor, impor uma disciplina ao amor, impor uma legalidade, uma forma social. Mas o que você está fazendo? Como pode controlar aquilo que ainda não aconteceu? Você pode amar uma mulher ou um homem, e sentir nesse momento que amará para sempre. Mas isso é um sentimento apenas desse momento. Como você pode prometer? Um homem autêntico jamais promete. Como se pode prometer algo para o futuro? Como é possível dizer que se será realmente capaz de amar também amanhã? Se o amor desaparecer, o que você fará? E ele aparece por conta própria, você não pode fazê-lo acontecer; então quando ele desaparecer, o que você fará? O amor vai e vem; aparece e desaparece. Ele não está sob o seu poder; é muito maior do que você. Assim, quando você diz: "Eu o amarei também amanhã", o que está fazendo? Se o amor desaparecer, você fingirá, representará. É isso o que acontece num casamento. E duas pessoas, vivendo num relacionamento morto, discutem, lutam, aborrecem uma à outra, tentando dominar, manipular, explorar e destruir. O casamento é uma coisa feia. O amor é tremendamente belo. Meu sannyas é como o amor, O antigo sannyas era mais como o casamento. Meu sannyas é simplesmente uma coragem de encarar tudo o que está acontecendo, sem qualquer ensaio. Como você pode preparar? O amanhã não é absolutamente conhecido. Seja o que for que você prepare, será um empecilho; tomar-se-á uma tela diante de seus olhos e você não conseguirá ver o que é. Toda preparação é perigosa. Fique despreparado. E então você ficará excitado, cada momento será uma alegria e um deslumbramento, cada momento trará algo novo, algo que nunca lhe aconteceu, e você nunca ficará entediado. A vida do casamento, a vida de toda disciplina é uma vida de tédio — é monótona. Monogamia é monotonia. Você tem que repetir a mesma coisa. Não está livre para explorar novos caminhos do ser. Não está livre para ver coisas novas. Não está livre para experimentar novas belezas, novas verdades. Se você é disciplinado, o que isso significa? Significa simplesmente que agora você tem um ponto de vista determinado, que seus olhos não estão mais abertos. Você é um cristão e tem uma disciplina. É um hindu e tem uma disciplina — um dogma, e seus olhos estão completamente lotados por esse dogma. Então você não pode ver o que é. Eu gostaria que você fosse totalmente descontrolado. Gostaria que fosse um caos absoluto, sem nenhuma ordem, qualquer que fosse ela. E, por favor, não me entenda mal. Existe toda a possibilidade de equívoco, pois quando digo algo tenho que usar palavras e as palavras estão corrompidas demais — corrompidas por você, corrompidas pelo uso, pelos séculos. Quando digo "caos", você sente medo. Mas você não conhece a beleza do caos nem conhece a ordem espontânea de um caos. Não conhece a ordem que vem da liberdade. Sem ser imposta pela sua mente ou pelo seu passado, mas apenas por você estar atento, alerta, livre, responsivo, uma ordem surge. Eu não a chamo de ordem, porque está mudando a todo momento. Não a chamo de disciplina, porque não tem nada a ver com você. Nesse caos você não existe mais, O ego desapareceu. Quem está disciplinando? O ego. O ego diz: torne-se um homem melhor, dê uma melhorada em si mesmo; você é um pecador, seja um santo; você é violento, seja não-violento; você sente raiva, seja mais amoroso. Mas quem está fazendo isso e quem é esse que almeja melhorar? O ego quer um pouco mais de decoração, quer ser mais respeitável, quer se tornar mais seguro, quer se sentir mais enraizado no mundo, quer sentir-se mais sólido, quer tornar-se alguém em particular, quer ser alguém especial. Não, meu sannyas não lhe dará nada desse tipo. Eu não lido com coisas mortas, não é esse o meu negócio. Todo o meu esforço aqui é para lhe dar um sabor de liberdade. Uma vez conhecido o sabor, você nunca mais aceitará qualquer outra coisa. Se for uma questão de ajustar-se a qualquer coisa, você está enganado. Meu sannyas é uma busca, não um ajustamento. No meu sannyas você pode repousar, mas pela manhã terá que partir. É um fluxo constante, é como um rio — a menos que se alcance o oceano. Mas, naturalmente, pelo fluir do rio aparece o oceano. Não há planos quanto ao oceano; o rio não sabe de nada. Para um rio não existem mapas. Ele não sabe onde está o oceano. O rio não tem nenhuma disciplina. As vezes vai para o sul, outras vezes começa a se mover para o norte; às vezes vai numa direcção, outras vezes vai noutra. Você já viu o ziguezague de um rio? Não é um caminho recto. Ele não é económico, não é matemático. Não é absolutamente o caminho mais curto — é muito sinuoso, apenas vai, sem saber para onde está indo; vai somente porque tem energia para ir. E um dia o rio alcança. Se ele planejasse, então encontraria a rota mais curta, mover-se-ia numa linha reta e nunca se desviaria; seria então muito consistente. Mas nesse caso não seria um rio. Talvez fosse um canal, um canal feito pelo homem, mas não um rio. Não teria nenhuma liberdade. Não quero que você seja um canal. Os canais são feios. Quero que você seja um rio. E a vida é um caminho montanhoso. Mova-se em liberdade, em total liberdade, e lembre-se a cada momento de abandonar o passado. Ele se acumula como poeira. Você experimenta alguma coisa a cada momento e vai acumulando. Não acumule. Ponha um fim a tudo o que está relacionado ao passado; que tudo o que é passado vá morrendo, para que você seja totalmente livre, pulsante, borbulhante, fluente, e, venha o que vier, encare com atenção. Você deve ter uma ideia errada sobre o meu sannyas.
Diz: O que entendo por sannyas é uma disciplina espiritual. .. Nesse caso, o significado que você dá é diferente do meu. Não, ele não tem nada a ver com disciplina — e não tem nada a ver com espiritualidade.

Quando Bodhidharma chegou à China, o Imperador o recebeu e lhe fez uma pergunta:
"Tenho realizado muitos actos meritórios. Construi muitos mosteiros budistas, milhares de monges budistas são alimentados com meu tesouro, milhões de chineses converteram-se ao budismo, milhares de templos foram erguidos a Buda. Qual será o meu mérito por tudo isso?" Bodhidharma ficou furioso e olhou nos olhos do Imperador, dizendo: "Majestade, não há nenhum mérito nisso".
O Imperador ficou muito chocado, pois antes muitos budistas tinham vindo — monges e missionários — e haviam dito: "Será esta a sua recompensa: você alcançará o sétimo paraíso. Realize mais acções virtuosas, faça mais doações, construa mais mosteiros, mais templos, estátuas de Buda, converta todo o país ao budismo. Sua recompensa será grande, Majestade". E agora vem esse Bodhidharma dizendo que não há nenhuma recompensa? Mas o Imperador era um homem muito educado. Mudou de assunto; abandonou o tema diante de muitas pessoas. E aquele homem parecia perigoso. Disse então: «Diga-me algo sobre a sagrada verdade de Buda». E Bodhidharma disse: «Nada pode ser dito sobre ela, porque é incomensurável, e, lembre-se, não há nada de sagrado nela. Sagrado e não-sagrado fazem parte da mente dual. Não há nada de sagrado, nada de profano; ela simplesmente é». Isto gora era demais. O Imperador sentiu-se muito ofendido. Ele negava até a verdade de Buda dizendo que não havia nada de sagrado nela. Começou a sentir raiva. Esqueceu por um momento toda a sua cortesia e disse: "Quem, então, é esse homem que está diante de mim?" E Bodhidharma ajoelhou-se, dizendo: "Eu não sei, Majestade".

Meu sannyas não é espiritual, porque eu não divido o mundo em material e espiritual. Não é nada sagrado, pois não divido o mundo em sagrado e profano. Tornando-se saniasin você não se torna um santo, porque não divido as pessoas em santos e pecadores. Pessoas são pessoas. Todas são belas — santos, pecadores, qualquer um. Na verdade, se no mundo existissem apenas santos e nenhum pecador, não seria um lugar que valesse a pena viver. Pense num mundo em que só houvessem santos. É possível imaginar um mundo pior que esse? Não, não teria muito valor. O pecador e o santo são como a unha e a pele, estão juntos, são um só a luz e a escuridão. Morte e vida estão se encontrando a todo momento. Portanto, eu não o chamo de espiritual, pois não tenho nenhuma condenação a fazer. Na própria palavra 'espiritual' você já negou alguma coisa, condenou alguma coisa, julgou; você já declarou: "O material está errado e eu quero o espiritual". Não pode ver o simples facto de que você existe no corpo como o corpo? Alguma vez já viu uma alma sem um corpo, desencarnada? Ou viu algum corpo sem uma alma? A bifurcação é estúpida. A alma nada mais é que o dinamismo do seu corpo, e o corpo nada mais é que a materialização da sua alma. O corpo é a sua alma visível, e a alma é o seu corpo invisível. E eu gostaria que você fosse tanto materialista quando espiritualista. Eu não faço a divisão. Não quero criar nenhuma cisão em você. Você já é dividido. As suas chamadas religiões já causaram muitos danos a você. Elas criaram um mundo esquizofrénico no qual todos são divididos. É claro que então há tensões, ansiedades, angústias, pois você se tornou dois. Apenas por se dizer um ser espiritual, você está condenando o seu corpo e criando uma fenda entre o corpo e a alma, entre Deus e o mundo.

                                                                         'Osho- Extâse a Linguagem Esquecida'