quarta-feira, 14 de janeiro de 2015



 Uma vez, um doutor - historiador e eminente erudito muito conhecido- estava hospedando-se em um povo. O administrador de correios, o velho administrador do povo, sentiu curiosidade por este ancião, este doutor. Tinha curiosidade por saber que tipo de doutor era, assim que um dia lhe perguntou: «Que tipo de doutor é o senhor?». O homem disse: «Doutor em filosofia». O ancião nunca tinha ouvido isso. Estava um pouco dúvidoso, e disse: «Nunca tive notícias de nenhum caso dessa enfermidade por aqui». 

Não se ria, porque o velho administrador de correios tinha razão em certo modo: a filosofia é uma espécie de enfermidade. É obvio, os doutores em filosofia não são doutores; mas bem são as vítimas perfeitas de uma enfermidade. A filosofia não é uma enfermidade específica, de modo que não pode pensar nela em função dos casos. Nasce com o ser humano. É tão velha como a humanidade ou a mente humana. E todo ser humano é uma vítima, mais ou menos, porque pensar não conduz a nenhuma parte; ou te leva em círculos, em círculos viciosos. Move-te muito, e se for perito pode te mover rapidamente, mas não chega a nenhuma parte. Isto terá que compreendê-lo muito profundamente, porque se não poder compreender e sentir isto, não pode dar o salto.

                                                                                                       

                                                                                                           'OSHO- O Livro dos Segredos Vol.4'

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Contos Zen



 

 Em dois mosteiros vizinhos viviam dois jovens monges muito amigos. De manhã, sempre os monges se encontravam, cada um cuidando de seus afazeres. Certo dia, um dos monges estava varrendo o pátio de seu templo e, vendo aproximar-se o amigo, perguntou:
"Olá! Onde vais?"
O amigo respondeu, feliz:
"Vou aonde meus pés me levarem..."
O monge ficou intrigado com a resposta e comentou com seu mestre. Este lhe disse:
"Da próxima vez, diga-lhe: ´E se não tivesses pés?´"
Quando o jovem noviço viu o amigo de novo na manhã seguinte, fez a mesma pergunta já antecipando o momento em que pegaria o amigo de jeito, desta vez:
"Onde vais?"
Mas o outro disse:
"Aonde o vento me levar!"
O monge ficou frustado! Voltou ao mestre e contou a nova resposta, e este, sorrindo, disse:
"Da próxima vez, diga-lhe: ´E se o vento parasse de soprar?´"
O jovem monge ficou encantado com a idéia:
"Sim, sim! Essa é boa! Agora ele não me escapa!"
No dia seguinte, ao amanhecer, ele viu seu amigo aproximando-se de novo. Perguntou-lhe:
"Olá! Onde vais?"
O amigo parou, sorriu-lhe, e falou suavemente:
"Simplesmente vou ao mercado, meu amigo...", e seguiu seu caminho.  

2º 

Os mestres Da-yu e Yu-tang aceitaram o convite para ensinar um alto oficial imperial sobre o Zen. Ao chegar Yu-tang apressou-se em dizer, politicamente:
"Tu pareces um homem inteligente e receptivo, e isso é muito bom! Creio que serás um bom aprendiz Zen."
Mas Da-yu replicou, sem preocupar-se com suavidades:
"O que dizes?! Este tolo pode ter uma alta posição, mas não perceberia o Zen nem se este lhe caísse na cabeça!"
O oficial, após ouvir os comentários, disse:
"Ouvindo o que ouvi, agora sei o que fazer para entender o Zen."
A partir de então, tornou-se estudante sob a orientação de Da-yu.

 Havia uma monja chamada Eshun, que era uma mulher muito bonita. Um jovem monge apaixonou-se por ela. Sem poder resistir ao sentimento, escreveu-lhe uma carta propondo um encontro às escondidas.
No dia seguinte ao fato, tão logo o Mestre terminar a palestra, Eshun levantou-se e disse para o monge, em frente a todos:
"Tu me enviaste uma carta se dizendo enamorado. Entretanto, o Amor não é algo para ser realizado às escondidas, pois ele é pleno e sincero. Se tu realmente me amas e não simplesmente me desejas, venha aqui e abrace-me em frente a todos. O que há para esconder?"
Mas o monge abaixou a cabeça, envergonhado. Na verdade, o que sentia não passava de luxúria...