segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Osho- Contradições

Osho in Greece


Aqui vou eu novamente — cantarei a mesma velha canção.
Mas, na verdade, não é a mesma velha canção; não pode ser.
Manu diz que não há nada de novo sob o sol. E ele está certo. E Heraclito diz que você não pode pisar duas vezes no mesmo rio. Também está certo. A existência é velha e nova ao mesmo tempo, e minha canção é a da própria existência. Sou apenas um veículo a
cantá-la para você, a espalhá-la sobre você. Mas não sou o cantor; sou apenas uma passagem.
Lembre-se disto: pode parecer a mesma coisa, mas não é. As palavras podem ser as mesmas, a aparência pode ser a mesma, mas algo vital está continuamente mudando. Você já passou duas vezes pela mesma manhã? Já viu duas vezes o mesmo céu? Entretanto, o céu é o mesmo e o sol é o mesmo.
Manu e Heraclito juntos são verdadeiros; separados são falsos. A vida é uma contradição.
A vida é paradoxal. É por isso que é tão encantadora e tão bela. Existe através dos opostos. Ela é vasta; contém contradições. É velha e nova ao mesmo tempo. É tanto vida como morte. Por isso digo que cantarei a mesma velha canção, mas, ao mesmo tempo, não será a mesma. Ouça com atenção.

Antes de entrarmos nas palavras do poeta místico Kabir, será bom conhecer alguma coisa
sobre ele. Não se conhece muito por sorte — porque quando se sabe muita coisa sobre uma pessoa, a compreensão torna-se mais complexa. Quando não se conhece nada, a complexidade é menor. Por isso, no Oriente, uma das tradições mais apreciadas tem sido a de não se dizer muita coisa sobre os místicos, para que as pessoas não fiquem atrapalhadas.

Não sabemos muito sobre Krishna nem sobre Buda; ou, tudo o que sabemos deles é mais mitológico do que histórico; mais ficção do que verdade.. Mas sobre Kabir, não existem nem mesmo ficções. E ele não é muito antigo, mas viveu de tal maneira que se ocultou completamente. Não deixou nenhuma marca.
Apenas os políticos deixam marcas no tempo — só eles são tão tolos. Os místicos vivem
no eterno. Não deixam marcas no tempo, não deixam nenhuma assinatura no tempo. Eles não acreditam em assinar na areia do tempo. Sabem que tudo será apagado, portanto não há porque fazê-lo.
Kabir não falou muito de si mesmo; pouco se conhece dele. Não se sabe nem se foi hindu
ou muçulmano. Conta-se que nasceu como muçulmano mas foi educado por um hindu. E isso
é belo; é assim que deve ser. Daí sua riqueza. Ele possui a herança de duas ricas tradições: a hindu e a muçulmana. Se você é apenas hindu, é pobre; se é apenas muçulmano, também é pobre. Veja minha riqueza: sou cristão, muçulmano, hindu, sikh e parse. E não apenas isso, sou também teísta e ateu. Reivindiquei toda a herança da humanidade. Reivindiquei tudo; não rejeitei nada. Dos Charvakas aos Budas, reivindiquei tudo. A humanidade toda é sua, toda a evolução da consciência humana é sua, mas você é tão miserável! Alguns tornaram-se hindus, reivindicaram apenas uma parte — e vivem nessa parte, aleijados e paralisados. Na verdade, essa parte é tão estreita que você não pode mover-se . Não há espaço suficiente. Uma pessoa religiosa reivindica tudo — Buda, Mahavir, Cristo, Zaratustra, Lao Tzu, Nanak, Kabir, etc., etc. Reivindica tudo. Todos eles fazem
parte de mim; todos eles fazem parte de você. Seja o que for que tenha acontecido na consciência humana, você carrega as sementes disso dentro de si.
Isto é uma coisa que se deve entender sobre Kabir: ele nasceu como muçulmano e foi
educado por um hindu. E nunca se chegou a uma conclusão sobre a quem ele realmente pertenceu.
Mesmo quando ele estava morrendo, houve uma disputa entre seus discípulos. Os hindus
reclamavam seu corpo, os muçulmanos reclamavam seu corpo, e sobre isso existe uma bela
parábola. Kabir deixou uma mensagem ao morrer. Ele estava sabendo que haveria um conflito — as pessoas são tolas; iriam reclamar o seu corpo — então deixou esta mensagem: "Se houver qualquer conflito, apenas cubram meu corpo com um lençol e esperem; a decisão virá". A história diz que o corpo foi coberto e tanto os hindus como os muçulmanos começaram a rezar.
Quando o pano foi removido, Kabir havia desaparecido, só algumas flores estavam lá. Essas flores foram divididas.
Até mesmo os discípulos são estúpidos.
Esta parábola é bela. Chamo-a de parábola; não digo que realmente tenha acontecido, mas
demonstra algo. Um homem como Kabir já desapareceu. Não está no seu corpo. Está em seu
florescimento interior. Seu ,,"ahasrar, o seu lótus de mil pétalas, floresceu. Você está no corpo só até certo ponto. O corpo tem uma certa função a cumprir, que é o flores cimento da consciência. Uma vez que a consciência floresceu, o corpo torna-se não-existencial. Não importa mais se ele existe ou não. Isso é simplesmente irrelevante.
A parábola é bela. Quando eles removeram o pano, restavam apenas algumas flores. Kabir
é um florescimento. Apenas algumas flores ficaram. E os estúpidos discípulos, mesmo assim não entenderam. Dividiram as flores.
Lembre-se de uma coisa: todas as ideologias são perigosas. Elas dividem as pessoas. Você
se torna um hindu, torna-se um muçulmano, torna-se um jainista, um cristão: você está dividido. Todas as ideologias criam conflito. Todas elas são violentas. Um verdadeiro homem de compreensão não tem nenhuma ideologia; assim, ele não está dividido, está unido à humanidade inteira. Não apenas isso, está unido a toda a existência. Um verdadeiro homem de compreensão é um florescimento.
 
 
                                                                             'Osho- Extâse a Linguagem Esquecida'

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