domingo, 7 de julho de 2019

É Mesmo?


 Uma linda garota da vila ficou grávida. Seus pais, encolerizados, exigiram saber quem era o pai. Inicialmente resistente a confessar, a ansiosa e embaraçada menina finalmente acusou Hakuin, o mestre Zen o qual todos da vila reverenciavam profundamente por viver uma vida digna. Quando os insultados pais confrontaram Hakuin com a acusação de sua filha, ele simplesmente disse: "É mesmo?"  Quando a criança nasceu, os pais a levaram para Hakuin, o qual agora era visto como um pária por todos da região. Eles exigiram que ele tomasse conta da criança, uma vez que essa era sua responsabilidade. "É mesmo?" Hakuin disse calmamente enquanto aceitava a criança. Por muitos meses ele cuidou carinhosamente da criança até o dia em que a menina não agüentou mais sustentar a mentira e confessou que o pai verdadeiro era um jovem da vila que ela estava tentando proteger. Os pais imediatamente foram a Hakuin, constrangidos, para ver se ele poderia devolver a guarda do bebê. Com profusas desculpas eles explicaram o que tinha acontecido. "É mesmo?" disse Hakuin enquanto devolvia a criança.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

Osho- A mente




Tudo o que você vê foi inventado por pessoas espirituosas, não por pessoas sérias. As pessoas sérias vivem voltadas para o passado — elas não param de repetir o passado porque sabem que ele funciona. Elas nunca são inventivas. "Mente contemporânea" é, de certa forma, uma contradição. A mente nunca é contemporânea. Ela é sempre antiga. Mente é passado e nada mais. Mente significa memória. Nenhuma mente contemporânea pode existir. Ser contemporâneo é ser desprovido de mente. Apenas olhe, observe. O que é a sua mente? O que se quer dizer com a palavra "mente"? No que ela consiste exatamente? Todas as suas experiências, os seus conhecimentos e o passado acumulados — essa é a sua mente. Você pode ter uma mente materialista pode ter uma mente espiritualista, isso não importa nem um pouco. Mente é mente. A mente espiritual não é menos mente do que a mente materialista. E nós temos que ir além da mente. De Aristóteles a Wittgenstein, milhares de pessoas brilhantes
desperdiçaram todo o seu brilho pela simples razão de que tentaram solucionar apenas problemas em vez de se voltarem para a própria raiz de todos eles. A mente é o único problema. A mente só conhece o conflito. Mesmo quando não há conflito, a mente cria um. Mesmo quando não existe qualquer problema, a mente cria um. A mente não pode existir sem problemas: ela se nutre de problemas. Conflito, luta, desarmonia — e a mente está perfeitamente à vontade e ambientada. Silêncio, harmonia — e a mente começa a ficar com medo, porque harmonia, silêncio e paz são nada mais do que a morte para a mente. A mente é um robô. O robô tem sua utilidade, e é desse jeito que a mente funciona. Você aprende algo. Quando aprende, de início fica consciente. Por exemplo, quando aprende a dirigir um carro, fica bem alerta, porque sua vida está em perigo. Tem que tomar cuidado com muitas coisas: o volante, a rua, os pedestres, o acelerador, o freio, a embreagem. Tem que prestar atenção em tudo. Há tantas coisas a lembrar que você fica nervoso. E perigoso cometer um erro, por isso
você precisa manter a atenção. Mas, no momento em que aprende a dirigir, essa atenção já não é mais necessária. Então a parte robotizada da mente entra em ação. Isso é o que eu chamo de aprender. Aprender significa que algo está sendo transferido da consciência para o robô. E disso que se trata o ato de aprender. Depois que você aprendeu uma coisa, ela deixa de fazer parte da mente consciente e é enviada para o inconsciente. Agora o inconsciente pode fazê-la. Agora a consciência está livre para aprender outra coisa. Isso é, por si só, extremamente significativo. Do contrário você ficaria aprendendo uma única coisa a vida inteira.
A mente é uma ótima serva, um ótimo computador. Use-a, mas lembre-se de que ela não pode dominar você. Lembre-se de que tem que continuar sendo capaz de ficar consciente, de que ela não pode tomar posse de você totalmente, de que ela não pode se tornar tudo, de que a porta precisa ser deixada aberta para que você possa sair do robô. Não rejeite a mente — entenda-a. Quando entende algo, você vai além disso — isso fica abaixo de você. A mente tem sua utilidade — uma grande utilidade. Não existiriam qualquer ciência sem a mente, qualquer tecnologia. Todos os confortos do ser humano desapareceriam sem a mente humana. O homem regrediria para o mundo dos animais ou até para um mundo ainda mais inferior. A
mente nos deu muito. O problema não é a mente. O problema é a sua identificação com ela. Você acha que você é a mente — aí está o problema. Pare de se identificar com a mente. Seja o observador e deixe-a funcionar — sob sua vigilância, seu testemunho, sua observação. Uma
diferença radical ocorre por meio da observação. A mente funciona com muito mais eficácia quando você a observa, porque todo o lixo é descartado e ela não precisa carregar um peso desnecessário — fica leve. E quando você se torna um observador, a mente também pode ter
algum descanso. Do contrário, durante toda a vida a mente trabalha, dia após dia, ano após ano. Ela só pára quando você morre. Isso cria uma fadiga profunda, uma fadiga mental. Agora os cientistas estão dizendo que até os metais se cansam — existe a chamada "fadiga do metal". Então o que dizer da mente, que é extremamente sutil, que é tão delicada? Trate-a com cuidado. Mas continue à distância, indiferente, desapegado. Quando escreve, você não se torna a caneta, embora não possa escrever sem ela. Uma boa caneta é essencial para uma boa escrita. Se você começar a escrever com os dedos, ninguém entenderá o que escreveu, nem mesmo você, e será muito primitivo. Mas você não é a caneta e a caneta não é o escritor, é só um instrumento para escrever. A mente não é o mestre, mas só um instrumento nas mãos do mestre. Treinar a mente para a concentração é muito difícil: ela se revolta e continua a recair em antigos hábitos. Você a segura novamente e ela escapa. Você a leva para o assunto no qual estava concentrado e, de repente, descobre que ela está pensando em outra coisa — já até esqueceu em que estava concentrado. Não é uma tarefa fácil. Mas colocá-la de lado é algo extremamente fácil — não é nada complicado. Tudo o que você tem que fazer é observar. Seja o que for que esteja passando na sua cabeça, não interfira, não tente detê-la, Não faça nada: qualquer coisa que fizer vai virar uma disciplina. Então não faça absolutamente nada. Só observe. O que há de mais estranho sobre a mente é que, se você se tornar um observador, ela começa a desaparecer. Assim como a luz dispersa a escuridão, a atenção plena dispersa a mente, seus pensamentos, toda a sua parafernália. Intelecto é pensamento. A consciência é descoberta em um estado de não-pensamento: no silêncio total em que nenhum único pensamento causa perturbação. Nesse silêncio você descobre seu próprio ser — ele é tão vasto quanto o céu. E conhecê-lo é entrar em contato com algo que realmente vale a pena. De outra maneira, todo o seu conhecimento é lixo. Seu conhecimento pode ser útil, mas não vai
ajudá-lo a transformar o seu ser. Ele não pode lhe trazer satisfação, contentamento, iluminação, a ponto de você poder dizer: "Estou em casa." Seus pensamentos não são você. Existe um tráfego constante. Na sua tela mental, tantos pensamentos estão passando, mas você não é um deles. Você é a testemunha, está de fora. Está vendo esses pensamentos passarem. Nada que possa ver pode ser você. Esse deve ser o critério: nada que testemunhe pode ser você. Você é a testemunha.
   
                                                                              'Osho-Faça o seu Coração Vibrar'

sábado, 21 de maio de 2016

Buda - Além da Palavras

Certa vez estava Buda sentado sob uma árvore, com os seus discípulos reunidos à sua volta esperando que ele iniciasse seu discurso. Em determinado momento, Buda calmamente inclinou-se e colheu uma flor. Levantou-a à altura de seu rosto e girou-a suavemente. Seus discípulos ficaram espantados e confusos, e murmuraram entre si questionando o sentido daquilo. Dentre eles, apenas Kashyapa entendeu o gesto, sorrindo. Buda percebeu que Kashyapa tinha compreendido, e lhe disse: "O método de Meditação que ensino é ver as coisas como elas são, nada rejeitar e tratar as coisas com alegria, vendo claramente sua face original. Esse Dharma misterioso transcende a linguagem e os princípios racionais. O pensamento lógico não pode ser usado para obter a Compreensão; apenas com a sensibilidade da não-mente alcança-se a Verdade. Vós compreendestes. Por isso, concedo-lhe a partir deste momento o espírito do Dhyana."

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015



 Uma vez, um doutor - historiador e eminente erudito muito conhecido- estava hospedando-se em um povo. O administrador de correios, o velho administrador do povo, sentiu curiosidade por este ancião, este doutor. Tinha curiosidade por saber que tipo de doutor era, assim que um dia lhe perguntou: «Que tipo de doutor é o senhor?». O homem disse: «Doutor em filosofia». O ancião nunca tinha ouvido isso. Estava um pouco dúvidoso, e disse: «Nunca tive notícias de nenhum caso dessa enfermidade por aqui». 

Não se ria, porque o velho administrador de correios tinha razão em certo modo: a filosofia é uma espécie de enfermidade. É obvio, os doutores em filosofia não são doutores; mas bem são as vítimas perfeitas de uma enfermidade. A filosofia não é uma enfermidade específica, de modo que não pode pensar nela em função dos casos. Nasce com o ser humano. É tão velha como a humanidade ou a mente humana. E todo ser humano é uma vítima, mais ou menos, porque pensar não conduz a nenhuma parte; ou te leva em círculos, em círculos viciosos. Move-te muito, e se for perito pode te mover rapidamente, mas não chega a nenhuma parte. Isto terá que compreendê-lo muito profundamente, porque se não poder compreender e sentir isto, não pode dar o salto.

                                                                                                       

                                                                                                           'OSHO- O Livro dos Segredos Vol.4'

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Contos Zen



 

 Em dois mosteiros vizinhos viviam dois jovens monges muito amigos. De manhã, sempre os monges se encontravam, cada um cuidando de seus afazeres. Certo dia, um dos monges estava varrendo o pátio de seu templo e, vendo aproximar-se o amigo, perguntou:
"Olá! Onde vais?"
O amigo respondeu, feliz:
"Vou aonde meus pés me levarem..."
O monge ficou intrigado com a resposta e comentou com seu mestre. Este lhe disse:
"Da próxima vez, diga-lhe: ´E se não tivesses pés?´"
Quando o jovem noviço viu o amigo de novo na manhã seguinte, fez a mesma pergunta já antecipando o momento em que pegaria o amigo de jeito, desta vez:
"Onde vais?"
Mas o outro disse:
"Aonde o vento me levar!"
O monge ficou frustado! Voltou ao mestre e contou a nova resposta, e este, sorrindo, disse:
"Da próxima vez, diga-lhe: ´E se o vento parasse de soprar?´"
O jovem monge ficou encantado com a idéia:
"Sim, sim! Essa é boa! Agora ele não me escapa!"
No dia seguinte, ao amanhecer, ele viu seu amigo aproximando-se de novo. Perguntou-lhe:
"Olá! Onde vais?"
O amigo parou, sorriu-lhe, e falou suavemente:
"Simplesmente vou ao mercado, meu amigo...", e seguiu seu caminho.  

2º 

Os mestres Da-yu e Yu-tang aceitaram o convite para ensinar um alto oficial imperial sobre o Zen. Ao chegar Yu-tang apressou-se em dizer, politicamente:
"Tu pareces um homem inteligente e receptivo, e isso é muito bom! Creio que serás um bom aprendiz Zen."
Mas Da-yu replicou, sem preocupar-se com suavidades:
"O que dizes?! Este tolo pode ter uma alta posição, mas não perceberia o Zen nem se este lhe caísse na cabeça!"
O oficial, após ouvir os comentários, disse:
"Ouvindo o que ouvi, agora sei o que fazer para entender o Zen."
A partir de então, tornou-se estudante sob a orientação de Da-yu.

 Havia uma monja chamada Eshun, que era uma mulher muito bonita. Um jovem monge apaixonou-se por ela. Sem poder resistir ao sentimento, escreveu-lhe uma carta propondo um encontro às escondidas.
No dia seguinte ao fato, tão logo o Mestre terminar a palestra, Eshun levantou-se e disse para o monge, em frente a todos:
"Tu me enviaste uma carta se dizendo enamorado. Entretanto, o Amor não é algo para ser realizado às escondidas, pois ele é pleno e sincero. Se tu realmente me amas e não simplesmente me desejas, venha aqui e abrace-me em frente a todos. O que há para esconder?"
Mas o monge abaixou a cabeça, envergonhado. Na verdade, o que sentia não passava de luxúria...




quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Osho- Solidão e Solitude


Na solitude estamos constantemente encantados conosco mesmos. Ela é abençoada, um profundo preenchimento, que nos mantém centrados e enraizados. Ela é independente. Todos são um fim em si mesmos. Ninguém existe para ser usado. Quem está no pico da solitude só se atrai por quem também esteja só. Dois solitários olham um para o outro, mas dois que conheceram a solitude olham para algo mais elevado. Se estão felizes consigo mesmos, tornam-se companheiros. As palavras felicidade e acontecimento têm a mesma raiz em inglês. Porque a felicidade simplesmente acontece. Para ser feliz é preciso deixar acontecer. O caminho do amor deve ser tomado com tremenda consciência e o da consciência, com tremendo amor. Depois de cada experiência profunda nos sentimos sós e tristes: seja um grande amor ou uma meditação. Por isso muitos evitam experiências profundas. A solitude é bela e livre. É um momento em que o outro não é necessário. Após essa liberdade o amor é possível. O amor traz solitude e a solitude traz amor. Já a solidão não cria amor; apenas necessidade. Ela pode matar. Dois solitários não conseguem se relacionar porque isso não ocorre a partir da necessidade. Solitude é uma flor desabrochando, é positiva, saudável. Só o amor dá a coragem de sermos sós. Só assim acumulamos energia até transbordar e transformar-se em amor. Sós, acumulamos amor, celebração, dança, energia, prazer, vida. Só o excesso de energia possibilita o orgasmo, que não é um alívio, mas celebração. Quando os amantes se afastam, readquirem sua solitude, beleza e alegria. A alegria traz a necessidade de compartilhar. A paixão é muito pequena diante da compaixão. Solitude é mover-se para dentro e amor é mover-se para fora. Ambos os movimentos são enriquecedores.

                                                                     'Osho- Relacionamento: Amor e Liberdade'

domingo, 28 de setembro de 2014

Osho- Sim e Não



Desobediência é a grande revolução, Isso não significa ser absolutamente contra qualquer situação. Significa simplesmente decidir fazer algo ou não, se é benéfico fazer algo ou não. É assumir a responsabilidade por si. Não é uma questão de odiar a pessoa ou de odiar que lhe digam o que fazer. Nesse ódio, você não pode agir com obediência ou desobediência — ao contrário, pode agir com inconsciência. Você não pode agir com inteligência. Quando lhe dizem para fazer alguma coisa, estão lhe dando a oportunidade de responder. Talvez o que lhe ordenem esteja certo. Então obedeça a ordem e seja grato à pessoa que lhe disse no momento certo o que fazer. Talvez a ordem não esteja certa. Então ajude a pessoa a entender que sua linha de raciocínio está errada. Mas não há por que odiar. Se a ordem estiver certa, cumpra-a com amor. Se não estiver, é necessário demonstrar mais amor ainda, porque você terá que
explicar à pessoa que aquilo não está certo. O caminho da desobediência não é estagnado, não é ser contra toda e qualquer ordem e alimentar raiva, ódio e desejo de vingança em relação a alguém. O caminho da desobediência é um caminho de grande inteligência. Leva tempo até você crescer, amadurecer, chegar a uma maturidade em que possa dizer sim e continuar sendo livre, em que você possa dizer sim e continuar sendo único e não se tornar um escravo. A liberdade que se consegue dizendo não é uma liberdade muito infantil. Ela é boa para quem tem de 7 a 14 anos de idade. Mas se a pessoa ficar presa a isso e sua vida inteira se tornar uma sucessão de nãos, então ela parou de crescer. O crescimento supremo é dizer sim com tanta alegria quanto uma criança diz não. Essa é a segunda infância. E aquela pessoa que consegue dizer sim com tamanha liberdade e alegria — sem nenhuma hesitação, sem nada que a prenda, sem qualquer condição, com alegria pura e simples, com um sim puro e simples — tornou-se sábia. Ela vive em harmonia novamente. E essa harmonia tem uma dimensão completamente diferente da harmonia das árvores, dos animais, dos pássaros. Eles vivem em
harmonia porque não podem dizer não, e o sábio vive em harmonia porque ele não diz não. Entre os dois, os pássaros e os budas, estão todos os seres humanos — não-crescidos, imaturos, infantis, estancados em algum lugar, tentando ainda dizer não para ter uma certa sensação de liberdade.


                                                                                'Osho- Faça o Seu Coração Vibrar'